“Retomai confiadamente nas mãos o Rosário”, pois ele “nada mais é senão a contemplação, com Maria, do rosto de Cristo” (São João Paulo II)
Um pouco de História
Uma data para não esquecer: 7 de outubro de 1571. Naquele dia, na costa da Grécia, perto da cidade de Lepanto, travou-se uma batalha naval das mais importantes para o Ocidente. De um lado, estava o exército otomano (turco) que, no ano anterior, havia invadido a ilha de Chipre, pertencente à República de Veneza; dali, pretendia dominar os países do mar Mediterrâneo, inclusive no campo religioso, promovendo o “Jihad” – isto é, a guerra santa, para a implantação do islamismo. Do outro lado, a Liga Santa, formada por diversas nações cristãs da Europa. No combate estavam envolvidos cerca de 400 navios, a maioria do Império Otomano. Foram dez horas de batalha, num confronto dos mais ferozes. Derrotados, os muçulmanos não puderam levar adiante seu projeto de dominar a Europa.
O Papa São Pio V vinha acompanhando os projetos do exército Otomano. Sabia do risco que seria a tomada da ilha de Chipre por esse exército. Então, procurou mostrar às nações europeias o que significaria o avanço do islamismo, conclamando-as à união; além disso, havia motivado o povo católico à oração, particularmente do santo Rosário. Com a vitória de Lepanto, São Pio V, através de uma bula (1572), determinou que no dia 7 de outubro se celebraria a memória de Nossa Senhora do Rosário; e, para manifestar a gratidão da Igreja à Mãe do Salvador, quis que fosse incluída, na Ladainha Lauretana, a invocação: “Auxílio dos cristãos, rogai por nós!”
O Rosário
“O Rosário é um modo de oração e súplica a Deus, ao alcance de todos, que consiste em louvar a própria Santíssima Virgem, repetindo a saudação angélica, intercalando, a cada dezena, a oração do Senhor, com determinadas meditações que ilustram toda a vida de nosso Senhor Jesus Cristo”. Essa afirmação de São Pio V (17.09.1569) é uma admirável síntese da essência do Rosário – oração que se consolidou entre os séculos XII e XVI. São Domingos († 1221) e seus religiosos a haviam conhecido e divulgado.
A partir de São Pio V, um incontável número de Papas escreveu sobre essa oração. Leão XIII (†1903), por exemplo, destacou que o Rosário “é uma maneira fácil de fazer penetrar e incutir nos espíritos os principais dogmas da fé cristã”. Pio XI († 1939) convidou o povo cristão a rezar à Rainha do céu na hora dos perigos que ameaçam o mundo, utilizando a oração do Rosário que, entre as orações à Virgem Maria, “ocupa o primeiro lugar” e é um instrumento muito valioso para despertar as virtudes evangélicas, para nutrir a fé católica, para reavivar a esperança e a caridade. O Papa Pio XII (†1958) não hesitou em afirmar: “É grande a esperança que pomos no santo Rosário, para curar os males que afligem os nossos tempos. Não é com a força, não é com as armas, não é com o poder humano, mas com o auxílio divino, obtido por meio dessa oração, forte como Davi com a sua funda, que a Igreja poderá enfrentar impávida o inimigo infernal”.
Até a Carta Apostólica “Rosarium Virginis Mariae”, de São João Paulo II (2002), o Rosário era composto por 15 mistérios: da Alegria (Gozosos), da Dor (Dolorosos) e da Glória (Gloriosos). A partir de então, ele foi enriquecido com os mistérios Luminosos, que dão destaque aos anos da vida pública de Jesus. Esse Papa lembrou duas circunstâncias históricas que o motivaram a relançar o Rosário: a necessidade da paz e os desafios enfrentados pela família, “cada vez mais ameaçada por forças desagregadoras” (RVM, 6). E insistiu: “Retomai confiadamente nas mãos o Rosário”, pois ele “nada mais é senão a contemplação, com Maria, do rosto de Cristo” (id. 43 e 6).
Dom Murilo S. Krieger, SCJ (Arcebispo Emérito de São Salvador da Bahia)
Artigo escrito para a Revista Brasil Cristão, janeiro/2020, ed. 270 – Associação do Senhor Jesus / https://www.rs21.com.br/site/asj/