Por Fernando Nascimento
Associação do Senhor Jesus

O Século XX foi um marco na história da Igreja: superou, em número de mártires, a todos os demais séculos juntos! O martírio é, de fato, um dom do Espírito Santo – mas descerá sobre vós o Espírito Santo e vos dará força (dínamo) e sereis minhas testemunhas (martyria) – pois, se ninguém pode dizer Jesus Cristo é Senhor senão sob a ação do Divino Espírito, quanto mais derramar o próprio sangue em nome e em honra deste Senhor (cf. At 1, 8; I Cor 12, 3). O Século dos mártires só o é porque, inegavelmente, houve nele um mover peculiar do Divino Espírito!

De fato, testemunhas fidedignas relatam que, em 1 de janeiro de 1901, o Papa Leão XIII entoara o Veni Creator Spiritus – como é tradicionalmente feito no início de cada ano – com a intenção de, após o incentivo de insistentes cartas de uma religiosa italiana chamada Elena Guerra (fundadora da Congregação das Oblatas do Espírito Santo), consagrar o século que se iniciava ao Divino Espírito Santo. Declarações como as de São João Paulo II e muitos outros santos, beatos, veneráveis e servos de Deus, assim como o florescer místico e carismático do Século XX nos dão a viva certeza de que o Senhor começou uma obra de renovação sobre a face da Terra e Ele é fiel para levá-la a bom termo.

 

O Fruto principal e mais maduro da Efusão do Espírito Santo sobre a vida de alguém é o total rendimento da pessoa ao Senhorio absoluto de Jesus Cristo. Ser “batizado no Espírito Santo” é uma experiência crítica (de mudança) que imprime um novo sentido à vida. De fato, tudo aquilo que conforma a essência da Igreja – Instituição & Carisma – e a Sua natureza íntima – o anúncio (kerygma/martyria), celebração (liturgia/mistagogia) e serviço caritativo (diaconia) – possui, como fim último, o estabelecimento do Reinado (Senhorio) de Jesus Cristo nas almas, o que tem por consequência a renovação da face da Terra. Todos os dons e manifestações espirituais são sinais que apontam para este fim último: homens e mulheres totalmente rendidos à Divina vontade! Se, por algum motivo, os meios (dons e manifestações) se tornarem fins… estaremos subvertendo a obra do Espírito Santo para estes tempos, o que ocasionará, por consequência, a cessação dos carismas e das manifestações sobrenaturais.

A história da salvação relata, nos mais diversos momentos da história, que, quando cessam os carismas, a tendência é manter o frisson a todo custo por meio de uma “superestruturação” que seja capaz de garantir por si só a unção. Cito, por exemplo, um dos maiores moveres proféticos da história do povo judeu, surgido num tempo no qual a vida espiritual dos judeus estava em crise. Estes homens se consagraram ao estudo da Palavra – a Torá – e suas tradições, e foram os principais responsáveis por, no século II a.C. reacender a esperança messiânica no coração de Judá. Foram eles os criadores das Sinagogas – casa da Palavra – que tinham por finalidade o ensino das escrituras e das tradições judaicas (diga-se de passagem, foi isto o que fez o Judaísmo subsistir à destruição do templo, no ano 70, e existir até hoje). E qual é o nome deste mover profético? Farisaísmo! Sim, os Fariseus nasceram como um mover profético que visava reavivar o conhecimento das escrituras e da tradição. O que lhes aconteceu? Perderam, por completo, o senso de sua consagração – o nome Fariseu significa “separado” – e se tornaram um fermento de hipocrisia, como denunciara Jesus, o principal obstáculo enfrentado pelo Messias (que eles tanto esperaram e não foram capazes de reconhecer). Uma vez perdida a unção profética que lhes originou – nasceram após a revolta dos Macabeus, imbuídos do mesmo amor de Matatias, de Judas Macabeu e tantos outros – criaram uma superestrutura e um sem-fim de regras (às quais Jesus fez dura oposição). Este é apenas um dos muitos exemplos do que pode acontecer quando subvertemos os meios em fins.

O Movimento Pentecostal do início do Século XX foi marcado, em sua primeira onda, pela ênfase na santificação pessoal: separação do “mundo” (no sentido paulino da palavra) e dedicação da vida a Deus. Nos anos seguintes, houve uma segunda onda no Movimento Pentecostal, cuja ênfase estava sobre os carismas, sobretudo a cura divina (em detrimento da santificação pessoal): os carismas eram o fim; por último, como consequência desta segunda onda, sobreveio a terceira onda do Pentecostalismo: a ênfase na prosperidade como sinal da benção e da ação divina, onde cessam os carismas (chegam, inclusive, a negar os carismas). O derramamento genuíno do Espírito Santo precisa ter por finalidade a fusão da vontade humana na vontade Divina, dimensão mais excelsa da rendição do homem ao Senhorio de Jesus Cristo: Esta é a Obra do Espírito Santo. Todo o demais existe e aponta para isso, na vida cristã.

Na cidade de Corato, no sul da Itália, havia uma mística por nome Luísa Piccarreta. Durante 64 anos esta mulher permaneceu enferma, numa cama; numa experiência mística, o Senhor lhe perguntara se ela desejava se unir, em vida, à Sua paixão, em expiação pelos pecados do mundo, ao que ela disse “sim”. Durante estes 64 anos, Luísa experimentava êxtases quase diários onde Nosso Senhor e a Virgem Santíssima falavam com ela. Por obediência ao diretor espiritual, Luísa começou a escrever o que via e ouvia, o que originou uma obra de trinta e seis volumes intitulada “O Livro dos Céus”. O cerne desta experiência mística consiste, precisamente, no anúncio de um grande derramamento do Espírito Santo para este tempo da Igreja cuja finalidade é o estabelecimento do Reino de Jesus Cristo nas almas mediante a fusão mística da humana vontade com a Divina vontade. Ao pedido “Venha a nós o Vosso Reino”, da oração ensinada pelo Senhor Jesus, segue-se o “seja feita a Vossa Vontade assim na Terra como no Céu”. O Senhor disse a Luísa que nenhum de seus fiéis seguidores – os santos – foi exposto ao nível de pecado e imoralidade que nós – os cristãos de hoje – somos. Por isto, onde abundou o pecado superabundou a graça. O Senhor prometeu à Luísa que homens e mulheres comuns seriam mergulhados na via unitiva por um derramamento santificador do Espírito Santo, cuja consequência principal é a vida segundo a Divina Vontade, e este é o princípio fundante, a condição de possibilidade para o estabelecimento do Reino de Deus sobre a Terra, quando a Sua vontade será realizada aqui como é realizada nos céus.

A Cultura de Pentecostes, única capaz de fecundar a Civilização do Amor, será possível quando pessoas batizadas no Espírito Santo – porta de entrada – comecem a viver na Divina Vontade, que já não é um conjunto de princípios aos quais se obedece, mas uma nova atmosfera de vida espiritual na qual se “entra”. Haverá manifestações carismáticas genuínas (e, algumas, inauditas até o momento), e a inauguração da última onda evangelizadora antes da gloriosa vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo.