Eloquente louvor da Cruz
Dos escritos da Serva de Deus Luísa Piccarreta (Vol. 3 – 2 de dezembro de 1899)

(Jesus a Luísa:) “Hoje quero entreter-me contigo. Conte-me algo.” E eu: ‘Sabes que todo o meu contentamento está em estar Contigo, e tendo a Ti, tenho tudo. Por isso, possuindo-Te, parece que não tenho nada mais a desejar, ou a dizer.’ E Jesus: “Deixe-me ouvir a sua voz que alegra os meus ouvidos, conversemos um pouco; Tantas vezes falei-te sobre a Cruz; hoje, deixa-me ouvir-te falar sobre ela.”

Eu me senti toda confusa; não sabia o que dizer. Mas como Ele me enviou um raio de luz intelectual, para deixá-lo contente, comecei a dizer:

‘Meu Amado, quem pode dizer-Te o que é a Cruz? Só a tua boca pode falar dignamente da sublimidade da Cruz; mas já que queres que eu fale, eu o farei.
A Cruz, sofrida por Ti, libertou-me da escravidão do demônio e me desposou à Divindade com um vínculo indissolúvel.
A Cruz é fecunda e dá à luz a Graça em mim.
A Cruz é Luz, desilude-me do que é temporal e me revela o que é eterno.
A cruz é fogo, e reduz a cinzas tudo o que não é de Deus, a ponto de esvaziar meu coração da menor folha de relva que possa estar nele.
A Cruz é uma moeda de valor inestimável, e se eu tenho, ó Esposo Santo, a fortuna de possuí-la, serei enriquecida com moedas eternas, a ponto de me tornar a mais rica do Paraíso, porque a moeda que circula no Céu é a Cruz sofrida na terra.
A Cruz, então, faz-me conhecer a mim mesma; não só isso, mas me dá o conhecimento de Deus.
A Cruz enxerta todas as virtudes em mim.
A Cruz é a nobre cátedra da Sabedoria incriada, que me ensina as doutrinas mais elevadas, melhores e mais sublimes. Assim, só a Cruz me revelará os mistérios mais ocultos, as coisas mais secretas, a perfeição mais perfeita, escondida aos mais eruditos e sábios do mundo.
A Cruz é como água benéfica que me purifica; não só isso, mas fornece-me o alimento para as virtudes, as faz crescer, e só então me deixa, quando me conduz de volta à vida eterna.
A Cruz é como o orvalho celestial, que preserva e embeleza para mim o lindo lírio da pureza.
A Cruz é o alimento da esperança. A cruz é o farol da fé operante. A Cruz é como o lenho sólido, que preserva o fogo da Caridade, mantendo-o sempre aceso. A cruz é como a madeira seca, que dissipa e põe em fuga toda fumaça da soberba e da vanglória, produzindo na alma a modesta violeta da humildade.
A Cruz é a arma mais poderosa que fere os demônios e me defende de suas garras.
Por isso, a alma que possui a Cruz é a inveja e admiração dos próprios Anjos e Santos, e a raiva e indignação dos demônios.
A Cruz é o meu Paraíso na terra, de tal forma que se o Paraíso dos Bem-aventurados lá em cima é de delícias, o Paraíso aqui embaixo é de sofrimentos.
A Cruz é a corrente de ouro puríssimo que me une a Ti, meu Sumo Bem, e forma a união mais íntima que se possa dar, a ponto de fazer desaparecer o meu ser. E me transforma em Ti, meu Bem-amado, a ponto de me sentir perdida em Ti e viver de tua própria Vida.’

Depois de dizer isto (não sei se são desatinos), meu amável Jesus ficou todo contente em me ouvir, e tomado por um entusiasmo de amor, beijou-me e me disse:

“Bravo, bravo, minha amada – falaste bem! Meu Amor é fogo, mas não como o fogo terreno que, onde quer que penetre, torna as coisas estéreis e reduz tudo a cinzas. Meu fogo é fecundo e só torna estéril o que não é virtude. A todo o mais dá vida, faz germinar lindas flores, amadurece os mais requintados frutos e converte a alma no mais encantador jardim celestial. A cruz é tão poderosa, e  comuniquei-Lhe tanta graça, que a tornei mais eficaz que os próprios sacramentos; e isso porque, ao receber o sacramento do meu corpo, são necessárias as disposições e o livre concurso da alma para receber as minhas graças, que muitas vezes podem faltar; enquanto a Cruz tem a virtude de dispor a alma à graça.”